quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Loucócitos

José Manuel Ribeiro no Ojogo:

O levantamento popular em Guimarães, em apoio ao Vitória; a vaia ao nome de Bruno Alves, durante a enunciação do onze do FC Porto, no domingo, e um terceiro facto que vou acrescentar daqui a pouco dirigem obrigatoriamente o pensamento para a influência dos adeptos nos resultados das equipas. Sem condenação. Censurar as acções de uma multidão, quaisquer que elas sejam, é o mesmo que criticar o comportamento dos glóbulos brancos. O senso comum resulta de um processo orgânico, baseado em causa e efeito como todos os processos orgânicos (embora nem sempre fique claro qual foi a causa e quase nunca se possa prever o efeito). É por isso que vejo os adeptos como células sanguíneas irrequietas que acorrem às inflamações para digerir o que pensam ser bactérias. À semelhança destas últimas, também com o povo do futebol é impossível dialogar racionalmente: os glóbulos brancos não são persuadidos a fazer seja o que for; são provocados. Injectam-se anticorpos e lá vamos nós a rabiar, capazes de apostar o pai e a mãe em como temos vontade própria. Se houvesse uma sra. Multidão, seria possível pegar nuns quantos exemplos da vida recente do FC Porto, mais este muito positivo do Guimarães, e perguntar-lhe: não teria o Pepe actual chegado um ano antes se não fossem os assobios com que o Estádio do Dragão o fez sentir-se indesejado uma época inteira? E Raul Meireles, condenado sumariamente por ter feito um autogolo na Madeira, até que ponto a perseguição não lhe atrasou a vida? Juntemos à lista César Peixoto, Postiga, Luís Fabiano, Quaresma ou Derlei, noutra perspectiva, e pode ser que tenhamos encontrado para os desastres da época 2004/05 um responsável tão bom como o presidente, a administração e os treinadores. Inimputável, mas responsável ainda assim. Assumindo que está a acontecer outra vez com Bruno Alves, a quem o jogo de domingo não foi propriamente facilitado pelos seus próprios adeptos, a resposta que se pode dar ao autor de um comentário em defesa das claques do FC Porto que me deram a ler é "não". Por natureza, os glóbulos brancos não merecem medalhas, muito menos os que se fartam de confundir bons jogadores com bactérias.

HELTON
Ele sabe que não vai


No apontamento semanal que as rádios nacionais lhe proporcionam, Mário Zagallo, coordenador-técnico da selecção brasileira, repetiu que Helton está fora dos jogadores seleccionáveis para o Mundial. Se o guarda-redes do FC Porto fosse impressionável, teria de lidar todas as terças-feiras com esta lembrança tão simpática da sua triste condição de alienado, mas a verdade é que Zagallo não o apanhou desprevenido. Na canção principal do CD que acaba de editar, interpretada por ele próprio, há um verso incrivelmente saudável, para não dizer nostradâmico: "Eu vou ficar ligado na TV para assistir".