quinta-feira, novembro 16, 2006

A mobília

José Manuel Ribeiro no Ojogo:

O futebol tem graça. José Veiga abandona empurrado por um assunto que não faz dele mau (nem bom) director-geral. O caso não tem a ver com a Federação nem com a Liga, e, em princípio, também sai grátis ao Benfica. Nenhum animal foi molestado durante a cobertura da TVI anteontem à noite. Nenhum árbitro foi ofendido. Nenhum pai teve de inventar uma artrose para explicar ao filho o que tinha no dedo aquele senhor tão bem penteado por fora. José Veiga retira-se porque, a partir de agora, terá de comer a sopa sentado no chão, uma realidade que, objectivamente, só diz respeito ao José Veiga e à sopa. O futebol não melhora só porque se corre com as pessoas que comem a sopa sentadas no chão. Enquanto motivo para desertar é confrangedor.

Veiga não se demite depois de ter sido apanhado a exibir o dedo médio num estádio, como se tivesse saído do liceu apenas na semana passada, e demite-se porque o tribunal lhe levou os sofás?

O Benfica aguenta nos quadros pessoas sem maneiras, mas não pode lá ter pessoas sem sofás?

Infelizmente para a saúde do recente FC Porto-Benfica (ver trabalho na página 26), Veiga perdeu a mobília demasiado tarde. Se fizermos contas ao papel que teve em tantas das escusadas controvérsias do clássico, é fatal concluir que um arresto dos móveis três semanas mais cedo teria feito muito bem ao clássico. E maravilhas à coluna de Veiga.


Dedo no ar

As testemunhas do FC Porto foram ouvidas anteontem na Liga no âmbito do processo disciplinar levantado ao director-geral do Benfica. Uma diligência que servirá, quanto mais não seja, para ver até que ponto a nova Comissão Disciplinar quer realmente meter o dedo nesta matéria.



Artigo de José Manuel Ribeiro no Ojogo:

Benfica esteve na origem de nove das controvérsias que rodearam o jogo com o FC Porto, contra duas levantadas pelos dragões.


Clássico que se farta

O racismo é a quinta acusação feita ao FC Porto em 25 dias de "jogo", incluindo 11 polémicas, cinco queixas à Liga, 40 chamadas à primeira página, três comunicados, etc, etc, etc.


Vinte e cinco dias. Talvez não seja um recorde, porque o Benfica-FC Porto de há duas épocas levou quase um ano inteiro a acabar, às costas de Olegário Benquerença e do golo fantasma de Petit, mas vinte e cinco dias é sempre um prazo anormal para um jogo de futebol, mesmo um clássico. Não foram, ressalve-se, vinte e cinco dias desaproveitados. A acusação de insultos racistas, reafirmada agora por Mantorras, encerra (?) uma antologia sociológica do futebol nacional das mais completas que já se viu: houve problemas de distribuição de bilhetes; árbitros acusados (antes e depois do jogo); insultos de grande valor estilístico ("engavetado", "Pinóquio"); um jogador arrumado por três meses e outro acusado de o ter magoado de propósito; discutiu-se se a Direcção do Benfica devia ou não comparecer no estádio; analisou-se ao detalhe o dedo médio de José Veiga; houve queixas formais contra, pelo menos, seis pessoas e, a fechar o ciclo de amplos debates temáticos, este do racismo, que Portugal nunca teve e, pelos vistos, estava mortinho por ter.

O futebol nacional saiu, portanto, mais rico do FC Porto-Benfica e, feitas as contas, as honras do enriquecimento devem ser atribuídas ao clube de Lisboa, responsável por nove das onze polémicas levantadas durante estes 25 dias, bem como por cinco das seis declarações públicas que vários comentadores responsabilizaram pela degradação do ambiente - ou sete, se quisermos considerar o dedo médio de José Veiga uma declaração pública. Na troca de acusações, também há uma ligeira vantagem do Benfica. O FC Porto foi acusado de ter levado o árbitro Carlos Xistra a expulsar Micolli no jogo entre o Benfica e o Estrela da Amadora; de xenofobia; de intrusão irregular de uma ou mais pessoas no túnel dos balneários e, de forma subreptícia, de ter manipulado o relatório de, pelo menos, um dos delegados da Liga. Em contrapartida, o dono da casa acusou as visitas de lhe terem lesionado propositadamente um jogador. A nível pessoal, Pinto da Costa recebeu os cognomes habituais: Luís Filipe Vieira insinuou corrupção, ao afirmar que ele estaria "engavetado" se não fosse presidente do FC Porto, e José Veiga chamou-lhe mentiroso através da tradicional e sempre refrescante metáfora do Pinóquio.

A cobertura jornalística deste evento longo e multifacetado ficou-se por 40 chamadas às primeiras páginas nos três jornais desportivos. A maioria delas foram manchetes, mas a duplicação das capas, uma para o sul e outra para o norte, complica demasiado a contagem. Dos envolvidos, só os treinadores intervieram mais do que o presidente do Benfica; três vezes Jesualdo Ferreira, quatro vezes Fernando Santos. Segue-se José Veiga, autor de duas declarações a respeito do clássico, a do Pinóquio e outra para reclamar a flagelação de Carlos Xistra, garantindo, em simultâneo, a vitória no Dragão "mesmo sem Miccoli".


11 polémicas diferentes

5 queixas à Liga
3 comunicados
2 árbitros contestados
40 chamadas à primeira página nos jornais desportivos
1 lesão grave
5 declarações públicas de dirigentes do Benfica
1 declaração pública de Pinto da Costa


- Benfica esquece-se de pedir bilhetes para o clássico dentro do prazo regulamentar. Segue-se um primeiro pedido de compreensão ao FC Porto, depois o silêncio dos dragões e por fim a notícia de que o Sport Lisboa se conforma com as consequências do lapso.

Origem: Benfica

- Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa repartem primeiras páginas. O primeiro diz do segundo que precisa do FC Porto "para não ser engavetado"; em resposta, o segundo comenta o tema de conversa escolhido pelo primeiro: "De que vai ele falar? Do Benfica europeu que vai ao Celtic levar 3-0?"

Origem: Benfica

- Acabado o jogo com o Estrela da Amadora, Fernando Santos primeiro e José Veiga depois, um mais directo do que o outro, acusam o árbitro Carlos Xistra de ter ajudado o FC Porto com a expulsão de Micolli.

Origem: Benfica

- A Direcção do Benfica, pela boca do presidente Luís Filipe Vieira, anuncia que não comparecerá no Dragão.

Origem: Benfica

- A Comissão de Arbitragem nomeia para o jogo o árbitro Lucílio Baptista. O Benfica faz saber que a escolha lhe desagrada.

Origem: Benfica

- Culminando um par de dias repletos de declarações feitas por grandes personalidades benfiquistas, Luís Filipe Vieira anuncia que, afinal vai ao Dragão, "porque nunca deixou de acompanhar a equipa". Perdida nos arquivos da memória fica uma outra garantia do presidente do Benfica, dada à estampa uns dias antes: "Quem quiser saber as pessoas que estão envolvidas no processo [referia-se ao dossiê anónimo sobre o Apito Dourado que lhe foi entregue em casa] basta estarem atento aos jogos a que eu não vou"

Origem: Benfica

- No dia a seguir ao jogo, o FC Porto decide apresentar duas queixas na Comissão Disciplinar da Liga, uma contra o médio Katsouranis, pedindo a suspensão pelo tempo que durasse a recuperação de Anderson (lesionado pelo grego) e a outra contra José Veiga, pelos gestos obscenos que o director-geral do Benfica dirigiu ao público, durante o clássico.

Origem: FC Porto

- Benfica queixa-se do FC Porto à Liga por causa da presença de "pessoas estranhas ao jogo no túnel dos balneários".

Origem: Benfica

- Remetendo a uma declaração semelhante de Fernando Santos sobre o árbitro Carlos Xistra, Jesualdo Ferreira diz que também teve a premonição de que Anderson se ia magoar no FC Porto-Benfica. Santos mata a polémica, respondendo-lhe apenas que não é "adivinho".

Origem: FC Porto

- Benfica queixa-se do conteúdo dos relatórios do árbitro e dos três delegados da Liga. A respeito destes últimos, alega a presença irregular de um deles no jogo.

Origem: Benfica

- Benfica queixa-se de insultos racistas dirigidos por adeptos do FC Porto ao angolano Mantorras.

Origem: Benfica