PORTUGAL, FAVORITO AO TÍTULO?
Em vésperas da estreia de Portugal no Euro em França, deixem-me constatar um comportamento tipicamente português.
Portugal qualificou-se num grupo medíocre com Albânias, Arménias, Sérvias, Dinamarcas, tudo equipas da segunda e terceira divisão europeia. Ainda beneficiou de castigos disciplinares uefeiros a algumas delas.
Portugal qualificou-se com 7 vitórias e uma derrota. Dessas 7 vitórias, todas elas foram pela margem mínima, todas, umas por milagre, num conjunto de exibições ridículas e medíocres.
Portugal durante esta fase de qualificação até à estreia do Euro fez particulares onde registou 6 derrotas e outras tantas vitórias.
Portugal no último jogo de preparação ganhou 7-0 a uma medíocre Estónia, onde até Quaresma, um flop em todos os clubes de topo por onde passou, passou por bestial e salvador.
De repente, dizem que Portugal passou a favorito com este curriculum.
Bem, tendo em conta o que tenho visto dos jogos que se disputam em França, onde a qualidade dos jogos, emoção, em tudo, está a 1/1000 do último Mundial do Brasil, até podem ter chances se todos os jogadores portugueses de repente resolverem exibir-se a um nível que nunca fizeram até aqui, menos contra a Estónia, pois! e se a mediocridade reinante actual das selecções em França continuar assim. Mas se virem este Portugal favorito ao Euro, à rasca ou se virem pessoas chocadas por não verem "exibições estonianas" não se admirem. Somos portugueses. No fim do euro, venho cá comentar , para verificar se o Fernando Santos e selecção favorita é bestial ou uma besta.
Uma coisa é certa, se não formos bestiais agora, já temos uma fase de apuramento para o Mundial com um conjunto de selecções anedótica para voltarmos a ser bestiais e "favoritos" à próxima prova, nem que seja a ganhar todos os jogos pela margem mínima, mal e à rasca. Arranjemos o refugo para golear e seremos favoritos outra vez e a euforia propagar-se-á, por 1ºs Ministros a Presidentes da República.
Viva Portugal !!!
e disse que vinha cá fazer o balanço para constatar se seriamos bestiais ou bestas.
Ora bem. Aconteceu um milagre monumental e uma conjugação de factores irrepetiveis, tal como escreveu o Miguel Sousa Tavares, na sua última crónica com o título: Estão a matar o futebol, à nossa vista
Conseguimos o objectivo máximo, não jogando o futebol dos 7-0 à Estónia, claramente fortuito e mais que evidente, que tinha deixado meio mundo eufórico, mas jogando como na fase de qualificação, jogando mediocremente e apostando nos milagres inacreditáveis que já tínhamos sido contemplados , mesmo perante selecções ridículas.
Jogar com Islândia, Áustria e Hungria, e não conseguir ganhar um único jogo, sofrendo em vários para manter o empate e sendo qualificado no 3º lugar, lugar que noutras fases finais teria dado a eliminação e mesmo assim com menos pontos que em participações anteriores, já foi de si uma mediocridade inacreditável.
Depois ao mesmo tempo que nos víamos aflitos para empatar com uma Hungria de segunda, fomos contemplados nos descontos com um golo da Islândia, que nos desviou do grupo onde se agruparam todos os favoritos, que se auto-eliminaram. Mais sorte do que isto era impossível.
Tivemos Croácia, Polónia e País de Gales, jogos ganhos no milagre, na procura dos penáltis ou do golo fortuito saído do nada, sem futebol que os sustentasse, daí que tanta crítica mereceu e justamente da imprensa internacional, que na generalidade não tinha nada contra nós, mas porque era a pura verdade.
E chegamos à Final, contra o país anfitrião, onde mais uma vez tivemos uma sorte monumental pela forma como não sofremos golos no assalto à nova baliza, e mesmo com a infelicidade do Cristiano Ronaldo, que sinceramente até achei que foi a nossa sorte, acabou epicamente com um golo do jogador que 99% dos portugueses, e não eram franceses, diziam que nem para limpar a retrete aos jogadores da selecção servia, quando tudo fizemos para não jogar o jogo em si, só queríamos que ele acabasse, se possível logo no primeiro minuto. Tudo isto é ridículo.
Mais ridículo é assistirmos ao endeusamento de um seleccionador que nunca quis jogar futebol, que não gosta de futebol, que não joga futebol. Agora chamam-lhe uns nomes engraçados, muito elogiosos. Eu, por mim, senti vergonha de ver Portugal a jogar do guarda-redes para a defesa, e da defesa para o guarda-redes e só interessado que o jogo acabasse, isto durante 90 minutos e durante aliás, grande parte do Euro. Vergonhoso.
Não, eu não compro estas vitórias. Sim, são históricas. Têm um sabor especial, especialmente para quem vai ganhar muito $$$ com elas. Eu não ganho nenhum. Nem grande satisfação, pela forma como foi obtida. A vitória da Grécia também deve ter contribuído muito para o futebol europeu e mundial e para o país. Nota-se. Pois. Um acaso momentâneo, alicerçado na mediocridade.
Uma coisa tenho a certeza: Aqueles que elogiam o futebol da selecção e a forma como não quer jogar, deixam de ter autoridade moral para criticar os clubes pequenos no futebol nacional, especialmente quando visitam os grandes.
Veremos se serão tão compreensíveis para aqueles clubes que só querem perder tempo, não querem jogar e num momento de sorte vão uma vez à baliza e marcam. Quero-os ver a elogiarem o comportamento dos pequenos. Quero ver. Pois isto foi o fabuloso Portugal do fabuloso Fernando Santos.
E temo que este futebol fabuloso da selecção de Fernando Santos, que vejam lá, consegue resultados (rascas, nunca mais que por um golo, fortuitamente mas consegue) faça escola. Seria catastrófico. Como diz o Miguel Sousa Tavares: Estão a matar o futebol, à nossa vista. E pelos vistos, gostamos, aparentemente, embriagados pela novidade de sermos Campeões da Europa sem substrato algum, quando havia matéria-prima para extrair alguma coisa de jeito que sustentasse esse título. Mas acredito de dentro de um mês, já deixaremos de achar piada nas nossas disputas caseiras e clubísticas. Afinal de contas o Fernando Santos não conseguiu ser campeão com Jardel, mas consegue com um Éder. Nisso fica para a história.
Dizer-me que Portugal só consegue ser campeão em alguma coisa, jogando assim, não querendo jogar futebol e apostando tudo na sorte monumental, quer no aparelhamento, quer no jogo em si e nas ajudas divinas, então festejam lá as Taças assim. Da minha parte, dispenso. O mesmo faço com as vitórias do FC Porto ganhas da mesma forma. Dito isto, até posso dar a entender que não fiquei satisfeito com a vitória portuguesa. Fiquei, e gritei bem o golo do Éder. Aliás, gritei pelo Éder só. Parecia surreal. Parecia estar tudo em transe com o que se estava a passar. Pelo futebol da selecção e seu comportamento só assobiei. Mas somos Campeões Europeus, logo passa-se uma esponja pela forma como se obteve. Ninguém tinha conseguido. Está tudo em transe. Faz lembrar em muito o estado que o FC Porto chegou nos últimos anos. Eram infalíveis. Quem ousasse criticar os métodos e a forma, eram insultados de tudo. Eles até ganhavam, diziam eles do alto da sua arrogância e soberba. Agora é o estado que se conhece.
No fundo Portugal foi bestial sendo uma besta. Há quem goste de ganhar de qualquer maneira. Eu não.