domingo, junho 19, 2005

BRAVO José Manuel Ribeiro


Desbaratar II



Há muito por onde pegar no caso Anderson. Começa por ser uma caricatura da inexperiência que a equipa do FC Porto foi acusando ao longo da última época (e se resolvessemos o problema contratando um jogador de dezassete anos?) e avança pelo território perigoso do posicionamento em campo, ou não fosse ele outro "dez", como Diego, Léo Lima, Jorginho ou Bonfim, este também proveniente de um negócio em que a oportunidade valeu mais do que a necessidade.

Nesse aspecto, Anderson traz o extra de ser esquerdino e sabe-se que o FC Porto procura um dono para a esquerda do ataque desde a partida de Drulovic, mas ainda assim terá de encaixar num sector superlotado, condenado, mesmo antes dele, a repartir-se por outras posições no sistema táctico, quando não no banco ou noutro clube.

A explicação disponível é o investimento, conceito muito difícil de introduzir na comunicação social portuguesa se não houver o cuidado de pôr, previamente, um senhor de gravata na televisão, a falar em "despesa corrente" e "cash-flow".

O que faz uma SAD subitamente endinheirada? Melhora o estádio? Já está.

Constrói um centro de treinos? Também já existe.

Compra futebolistas maduros, prontos a ganhar mas difíceis de revender, arriscando perder bem mais do que campeonatos ou eliminatórias da Liga dos Campeões? Apesar da forma desastrada como lidou com a época, se o FC Porto esteve bem nalgum ponto foi nesta estratégia de investir em jogadores jovens, já inseridos no mercado e transaccionáveis.

Dou três exemplos para comparar: Luís Fabiano, Cláudio Pitbull e Karadas. Os dois primeiros estão perfeitamente no âmbito do dinheiro avidamente "desbaratado" pela SAD e ambos fracassaram, ou pelo menos não se valorizaram, no FC Porto.

Consequências?

Fabiano foi vendido com ligeiro lucro e Pitbull também teria sido, caso tivesse aceite o negócio com o Flamengo, que o avaliava em mais de um milhão de euros, sobram ainda Ibson, Diego e o potencial Bonfim para cobrir, bastando para tal que um só resulte, os riscos corridos com Léo Lima ou até Leandro.

Karadas custou apenas milhão e meio ao Benfica. Será fácil recuperar o investimento?