O que é o provincianismo se não a obsessão pelo jetset? Ou a capacidade de nos deslumbrarmos com detalhes como as novas sanitas automáticas japonesas? Ou com o Amoreiras Shopping (ainda)? Ou a tendência para darmos importância às pessoas e coisas consoante elas tenham sido mencionadas ou não por estrangeiros, sendo que o termo "estrangeiros", para o caso, abrange um larguíssimo naipe que vai dos lisboetas aos ingleses, consoante se seja provinciano no Porto ou na capital? Se considerarmos impossível que um presidente da República seja provinciano, a resposta é "nada disso".
José Mourinho venceu um campeonato e uma Taça UEFA em Portugal. Distinção pública? Nenhuma.
No ano seguinte, voltou a ganhar o campeonato e juntou-lhe uma impensável Liga dos Campeões, bem antes do último dez de Junho. Encómios do Estado? Zero.
Esta época manteve a média, acrescentando à lista mais um campeonato e uma taça, com a diferença de que nenhum desses troféus será visto em vitrinas portuguesas e que nenhuma das duas vitórias terá a mínima repercussão material cá dentro. Delas não ficou cá nada para mostrar, nem as taças, que moram algures no bairro de Kensington em casa de ingleses, nem as alegres lesões de ligamentos ou as felizes entorses nos tornozelos de quem saltou com os triunfos. No entanto, na opinião de Jorge Sampaio, era essencial que Mourinho desse uma vitória a uma equipa estrangeira. Mostra coerência.
O último treinador a quem distinguiu dessa maneira - um estrangeiro - tinha acabado de perder a final do Euro'2004, facto pelo qual os gregos lhe estarão agradecidos para o resto da vida. Como os londrinos a Mourinho.
José Manuel Ribeiro no Ojogo
Fascinante
Há 15 horas