sábado, junho 10, 2006

Bem visto

José Manuel Ribeiro no OJogo:

O campeão que sobra

A esta hora ainda por clarificar, a lesão de Deco tem potencial para se tornar numa notícia pior do que a perda de Jorge Andrade. Há os jogadores que vão ser, os jogadores que foram e os jogadores que são. Deco está no último grupo e, até prova em contrário, muito desacompanhado, pelo menos no que diz respeito a figuras habituadas a corresponder ao que se espera delas ou, pelo menos, com a memória disso ainda fresca. É o campeão europeu que sobra. Podem perguntar-me que raio importa isso e eu respondo que me limito a fazer constatações.

Desde o regresso dos portugueses às fases finais, só numa delas não houve na equipa qualquer campeão europeu da época correspondente. Inventar uma relação entre esse facto e a hecatombe do Mundial'2002 seria uma grande palermice, mas ter um vencedor quentinho, a sair do forno, mal não faz, de certeza absoluta. E até se arranja uns indícios interessantes para compor a tese.

Paulo Sousa no Euro'96, Figo no Euro'2000 e os jogadores do FC Porto no Euro'2004 fizeram grandes torneios. Todos transportaram algum do sucesso das épocas para a Selecção, sendo que Portugal teve o melhor resultado de sempre na prova em que contou com mais campeões europeus.

Se esticarmos a lógica para a Taça das Taças, a teoria quase assenta também no Euro'84, disputado por um grupo constituído, em boa parte, pelos jogadores do FC Porto que tinham acabado de perder a final com a Juventus, em Basileia.

Eu nunca diria semelhante disparate em público, mas conheço quem lhe chamaria dinâmica de vitória ou sentido de uma coisa qualquer. Outros defenderiam que é motivador ter vencedores de carne e osso no balneário, provas vivas de que é possível, etc, etc. Como não tenho veia poética, por mim digo apenas que há grandes jogadores em grandes momentos. Deco é o deste Mundial.

Deco
A sombra de Mourinho

A fuga de Deco a Mourinho, no final da época 2003/04, foi um investimento inteligente que deu muito nas vistas. Dois anos depois, também a rentabilidade se tornou evidente: tem uma Liga dos Campeões a mais do que o antigo treinador. Enquanto emancipação, não podia ter resultado melhor, mas, a avaliar pela rapidez com que o secretário-técnico do Barcelona desmentiu a notícia de uma eventual troca por Lampard, não chega para o convencer a pôr-se outra vez debaixo da grande sombra de Mourinho. Onde há sombra não há luz.