O Mundial'2006 é o campeonato do Mundo perfeito. Enquanto o planeta discute ética e deontologia, os limites do compromisso com as fontes e a independência dos jornalistas, as televisões aceitaram que a FIFA retocasse os jogos antes de lhos dar. Não há repetições dos casos duvidosos, não há imagens das invasões de campo, não são filmadas tarjas de índole alguma, mesmo que consigam escapulir-se aos SS, e ontem nem sequer houve a máscara de homem-aranha amarelo que Kaviedes enfiou na cabeça para festejar o terceiro golo do Equador. Só em diferido.
O Mundial'2006 é o Portugal sem suicídios do antigo regime.
O futebol passa por uma desinfecção cuidadosa antes de nos chegar a casa. Mas as pessoas não se opõem grande coisa a estas restrições pedagógicas. Lá no fundo talvez acreditemos todos que os nossos meninos e meninas, quando crescerem, hão-de encolher os ombros e saber ser superiores às decisões dúbias da arbitragem, porque aprenderam nos Mundiais de futebol. E também não hão-de entrar nos relvados durante os jogos nem usar as transmissões para pedir a namorada em casamento ou estender um lençol para dizer que moram em São Pedro da Cova. E usar máscaras, mostrar os mamilos ou dar um beijo de língua no capitão de equipa para festejar um golo está fora de questão a partir de agora: a FIFA não admitirá que as pessoas voltem a aproveitar-se do futebol. Só ela.
Perante a compreensão que estas medidas recolhem, percebe-se que o seleccionador e os jogadores da selecção façam tanto espalhafato só porque a Imprensa achou que jogaram mal contra uma equipa formada em grande parte por futebolistas desempregados e das segundas divisões. Se o Mundial tem de ser perfeito para tanta gente, porque não hão-de também eles usar um pouco de pó de arroz? Mais um pouco, quero dizer.
O António José Seguro, ó Pedro Nuno?
Há 18 horas