"Não convocar Baía foi uma decisão da federação"
Ruy Carlos Ostermann é o homem que escreveu a biografia de Luiz Felipe Scolari, logo após a conquista do Campeonato do Mundo pelo Brasil, em 2002. Encontrámo-lo ontem na sala de Imprensa de Berlim, antes do jogo dos canarinhos. Não parece ter 71 anos. É simpático, muito acessível e até perguntou se os portugueses tinham apreciado o seu livro. "Gosto sempre de saber se consegui passar a mensagem que eu e ele desejávamos", afirmou, com um sorriso tipicamente brasileiro, enquanto bebia um café.
Contou muitas histórias sobre a carreira de Scolari no Brasil e em Portugal. Houve uma que despertou imediatamente a curiosidade. "Eu sei que ele não é amado por todos no vosso país. Por exemplo, os adeptos do F. C. Porto começaram a gostar pouco dele a partir do momento em que recusou convocar Vítor Baía. Mas, se calhar, essa não foi uma decisão dele, mas sim da Federação Portuguesa de Futebol. Eu sei que todos os responsáveis da FPF negam isso mas um dia a verdade virá ao de cima", sublinhou.
E acrescentou "Toda a gente sabe do que estou falando. Scolari foi contratado com a missão de efectuar uma grande mudança no futebol português porque o outro Mundial tinha sido um fracasso. E foram-lhe feitas, desde logo, algumas exigências. Havia gente que não era confiável desportivamente. O Ricardo é um óptimo guarda-redes e dá também muitas garantias", recordou, com ar cúmplice, sem tocar mais no nome do guarda-redes do F. C. Porto.
Bilhetes diários
Gaúcho, tal como o "Sargentão" (ambos são naturais do Estado de Rio Grande do Sul), sublinhou que foi ele o primeiro a chamá-lo de Felipão. "Fui eu que lhe dei essa alcunha. Quando tinha 22, 23 anos, jogava como zagueiro no Caxias. Era um homem grande, pesadão, forte, mas tremendamente tosco do ponto de vista técnico. Aí, eu resolvi apelidá-lo de Felipão".
Apesar de tudo, sublinha que não é seu amigo íntimo. "Temos uma amizade profissional que tem mais de 30 anos. Gosto de saber como está a sua família mas nunca vou a sua casa ou estou com os seus amigos". Como pessoa, aponta-lhe defeitos e qualidades. "Ele começa a vencer os jogos antes deles porque é um líder à moda antiga competente, sério e muito trabalhador. Do ponto de vista negativo, considero que é uma pessoa demasiado obstinada. Perde imediatamente a cabeça num diálogo se percebe que há ironia ou maldade na outra pessoa".
Dos tempos do Mundial 2002, lembra os bilhetes que o treinador lhe entregava, todos os dias, na sala de Imprensa, às escondidas de toda a gente. "Depois de ele aceitar o meu convite para fazer a publicação, o qual foi feito muito antes do início dessa prova, só impus uma condição para escrever o livro. Tinha de me dar um diário para que não se esquecesse de nada. E tenho de orgulho de dizer que nunca me aproveitei disso para efectuar o meu trabalho de jornalista naquela competição. Os meus próprios colegas só viram os bilhetes escritos após o livro ser publicado porque tinha de haver muita seriedade naquele negócio".
Cronista do jornal "Zero Hora", comentador de rádio e moderador de debates no Brasil, Ostermann está presente, pela 11.ª vez consecutiva, numa fase final de um Campeonato do Mundo. "O primeiro foi em 1966, de má memória. Quem ficou a rir foram os portugueses", concluiu, com uma enorme gargalhada.
Antes da despedida, afirmou estar ansioso por voltar a ver Scolari. "Não falo com ele há vários meses. Por uma ou outra razão, que tem a ver com a agenda de nós os dois, não conseguimos trocar uma palavra".
O António José Seguro, ó Pedro Nuno?
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