Isto das campanhas sórdidas e ignóbeis já não é como antigamente. Dantes exigiam muitas horas de trabalho honesto e, apesar disso, quantas vezes um dia inteiro de esforço não rendia apenas meia dúzia de deturpações e um par de aldrabices detectáveis a olho nu que mal chegavam para uma côdea de pão. Tempos houve em que o nobre mister de urdidor de campanhas sórdidas e ignóbeis pedia talento e empenho, mas vão longe esses dias. Vivemos uma era de fartura, nós os que nos dedicamos às perseguições pessoais execráveis. A abundância de material é tanta que nem será exagerado falar-se em riscos para a profissão.
Qualquer amador tem hoje meios para ser mais sórdido, ignóbil e execrável do que nós.
Veja-se o que o seleccionador de Portugal fez anteontem a Scolari ao jornal brasileiro "Zero Hora". Hão-de passar décadas antes que um de nós consiga igualar a sordície, ignomínia e execração desta obra prima, que une numa peça única a cobardia dos ataques pessoais com um oceano pelo meio ao carácter pantanoso de alguém que só consegue distinguir as pessoas pelas heranças que receberam ou pelos pais que tiveram.
Um único senão para o detalhe a rever dos "quatro ou cinco intelectuais" que o seleccionador acusa de perseguirem Scolari por motivos xenófobos: intelectual é uma palavra idiota, principalmente quando usada como insulto, porque não é um insulto dizer que um fulano pensa ou é culto; por outro lado, pode ser mal entendido criar essa rivalidade com os intelectuais em geral, porque no verso dos tais sujeitos que pensam e sabem coisas só podem estar os burros e os ignorantes.
Já a parte da xenofobia é genial, porque hostiliza contra nós todo o povo brasileiro e ainda colhe aplausos de alguns portugueses que acham que não serão confundidos com os demais quando estes repetidos comentários do Sargentão fizerem efeito. Resumindo, quando Gilberto Madail entender que é altura de distribuir dedos de prémio a quem diz mal de Scolari, esperemos que guarde o médio para o seleccionador. Ele merece.
O que sabem eles de cinema e literatura?
"Um diz que é cineasta. O outro, o pai dele foi um grande escritor. O pai, né, porque ele é uma bosta"
Luís Felipe Scolari ao jornal "Zero Hora"
O canalha
"Um terceiro ganhou uma herança do tio e ficou rico"
Idem
O António José Seguro, ó Pedro Nuno?
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