quinta-feira, janeiro 05, 2006

PINTO DA COSTA em entrevista ao OJOGO

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"Resgate de Moretto foi uma encenação ridícula"

O presidente do FC Porto esclareceu o envolvimento dos dragões na novela em torno da transferência de Moretto, terminada com o regresso do guarda-redes a Portugal na companhia de Luís Filipe Vieira. Frisou ainda que os portistas não estão à procura de reforços para além de Anderson embora reconheça que a ausência de McCarthy possa justificar a contratação de um avançado e ainda admitiu a vontade de concorrer às próximas eleições da Liga como oposição ao poder instalado.

MANUEL TAVARES / JORGE MAIA

De volta a Portugal depois de um curto período de férias no estrangeiro, Pinto da Costa aceitou esclarecer o envolvimento do FC Porto na novela em torno da transferência do guarda-redes Moretto para o Benfica, acrescentando alguns detalhes importantes ao Comunicado da SAD publicado na página oficial do clube na Internet a propósito do mesmo assunto (ver página 8). Para além de frisar nunca ter estado interessado no jogador - "já temos os dois melhores guarda-redes a actuar em Portugal" -, o presidente do FC Porto referiu ter sido contactado pelo Setúbal em primeira mão no sentido de ajudar os sadinos a ultrapassar a crise que atravessavam, sendo nesse pressuposto que fez uma proposta para a contratação de Moretto que terá ficado sem efeito logo que lhe foi comunicado o acordo entre o Setúbal e o Benfica. Noutro âmbito, garantiu que o plantel não precisa de mais reforços para além de Anderson, mas reconheceu que a ausência de McCarthy pode justificar a procura de uma alternativa para o ataque. Para além disso, admitiu a hipótese de concorrer a uma próxima eleição para a Liga de Clubes como oposição ao poder instalado.

O JOGO Qual é afinal o envolvimento do FC Porto no caso do Moretto?
Pinto da Costa Olhe, estive fora uns dias porque fui passar o ano ao estrangeiro. Só retomei hoje as minhas actividades e tive o cuidado de ler tudo o que foi dito e escrito a propósito desse tema. E achei fantástico como é que a maioria da comunicação social embarcou num filme que pode estar muito bem realizado e montado, mas não tem pés nem cabeça. Fez-me lembrar o livro do José Saramago que li nestas férias, "As Intermitências da Morte", que parte de um pressuposto que é termos de acreditar que a morte se transforma numa mulher. E de facto dá um grande livro, mas é preciso acreditar nessa premissa. Ora, partindo de um absurdo semelhante, a aventura do Moretto está bem montada. Uma ida ao Brasil, uma hipotética agressão, uma comissão de recepção a agredir um indivíduo que nada tem a ver com o FC Porto, e a polícia impávida e serena a assistir a tudo. Dá um grande filme, mas para isso temos de aceitar que há uma disputa entre FC Porto e Benfica. E isso é ridículo.

P E ridículo porque...
R É ridículo porque o jogador tinha um contrato com o Setúbal, um contrato válido porque os ordenados sempre estiveram em dia, portanto, a quem o Setúbal o quiser vender, vende. Tanto faz estar aqui como no Brasil. O Moretto só tinha duas opções, ou ia para o clube a que o Setúbal o quisesse vender ou ficava no Setúbal. Não havia nenhuma justificação para o ir buscar a correr ao Brasil, porque quando ele cá chegasse teria de se apresentar no Setúbal. Mas calhou bem a encenação, que colocou não só o futebol português mas também o país a ridículo. Agora temos imagens que correm o Mundo inteiro de um cidadão que chega ao Aeroporto de Lisboa, é agredido e a polícia fica a ver impávida e serena. De resto, saber-se que são pessoas ligadas ao Benfica as autoras da agressão - nas imagens até se vê o responsável pela organização dos jogos, um tal de Colaço - é uma vergonha para o futebol. Agora, pasmo é que ninguém diga que tudo foi desnecessário. Se ele queria ir para o Benfica, e se o Setúbal queria que ele fosse para lá, o suposto resgate não passa de uma encenação triste e lamentável que só coloca a ridículo que teve o trabalho de montar tudo.

P Uma das vitimas foi o tal Vítor Dinis que se apresenta como amigo do Moretto e conselheiro da Portuguesa dos Desportos e que, entre outras coisas, disse que o Moretto ia para o FC Porto...
R Não pode ter dito, porque não vinha. Há vários dias que havia contactos entre Quinito e Antero Henrique sobre possibilidade de cedências ao Setúbal. Depois, é sabido que o FC Porto sempre colaborou com o Setúbal. No ano passado tivemos lá o Bruno Moraes e trouxemos o Jorginho que estava em final de contrato com compensações para o Setúbal. Sempre tivemos um óptimo relacionamento. Foi-me comunicado que o presidente Chumbita Nunes queria falar comigo sobre a situação do Setúbal. E o que lhe disse, na tarde de quinta-feira antes de jogarmos com o Guimarães, foi que o FC Porto estava interessado em ajudá-los, podendo ficar com os direitos de vários jogadores, desde o central Fonte ao guarda-redes Moretto. Foi feita uma proposta. O FC Porto daria compensação material pela cedência dos direitos do Moretto, cederia o Sandro sem custos para o Setúbal e o Moretto ficaria lá a jogar. Aliás, fiz-lhe ver que não fazia sentido estar a contratar um guarda-redes quando tenho os dois melhores guarda-redes a actuar em Portugal. A minha proposta era que o jogador seria do FC Porto mas continuaria no Vitória e isto mesmo foi aceite por Chumbita, que de facto nos disse que teria uma reunião com o Benfica para se desembaraçar deles. Fomos para o jogo com o Guimarães, e à uma e meia da manhã fui autorizado a falar com o jogador que estava aqui, acompanhado pelo seu empresário, José Caldeira. Contudo, não falei com o jogador até ter um faxe que me autorizasse a fazê-lo. E foi ao princípio da tarde que o senhor Chumbita Nunes me comunicou que tinha vendido o jogador ao Benfica às cinco da manhã. E fê-lo, segundo me disse, pressionado, porque tinha uma execução fiscal no tribunal e o Benfica pagava a pronto e por aí fora. Como o jogador estava aqui, limitei-me a dizer ao José Caldeira que o FC Porto não estava no negócio. Cumprimentei o jogador e foi tudo.


"Quatro pontos de vantagem é óptimo"

P O FC Porto está em primeiro no campeonato, mas foi eliminado das competições europeias. Que balanço é que pode fazer da época?
R Na Liga dos Campeões, e em termos exibicionais, houve períodos em que as coisas nos correram muito bem. Fizemos bons jogos, mas não tivemos o mínimo de sorte. Tivemos sorte aqui com o Inter de Milão, mas depois tivemos infelicidade em todos os outros jogos. Disse-se que o FC Porto ia passar, que era favorito, tal como aconteceu com o Manchester United, mas numa fase destas basta que um jogo corra mal em casa, como foi o nosso caso com o Artmedia, para um candidato trocar o primeiro lugar pelo último. Se temos ganho ao Artmedia, como tudo fazia prever, até pelo próprio jogo, tudo teria sido diferente. Mas a sorte e o azar também fazem parte do futebol.

P A não qualificação do FC Porto tem implicações a nível financeiro?
R Estava previsto o apuramento, mas nunca ninguém pode garanti-lo. Temos outras formas de colmatar esse aspecto.

P No entanto, a equipa encontra-se bem no campeonato...
R Estamos bem. Chegamos à paragem de Inverno com quatro pontos de avanço, que é bom em qualquer circunstância. Acho que é extremamente positivo, sobretudo quando se tem de compreender que tivemos uma mudança radical de métodos e que é preciso um tempo de adaptação. Por exemplo, não considerava dramático, nesta altura da época, termos quatro pontos de atraso para o primeiro classificado. Mas, é lógico que ultrapassar o natural período de conhecimento recíproco entre jogadores e treinadores à frente do campeonato óptimo. Há uma coisa que acho fantástico: no ano passado, os problemas graves começaram a seguir às férias de Natal. Porque houve jogadores que não vieram, outros que não cumpriram com aquilo que estava estipulado, e outros que chegaram e mostraram que não tiveram o mínimo cuidado. Agora chegou toda a gente no dia marcado, e chegaram todos com o peso com que tinham partido, à excepção de um ou dois que engordaram um quilo. Irem de férias, que é um período onde se fazem algumas asneiras em termos gastronómicos, e chegar aqui com o peso normal é sintomático de um grande sentido de responsabilidade. Por isso tenho de dar razão ao treinador, que tinha a certeza que os jogadores não iam chegar com mais dois ou três quilos. Isto só demonstra como a equipa está unida, porque ninguém facilitou e todos compreenderam que as regras do treinador têm de ser cumpridas.



"Nunca estivemos interessados no Moretto pretendíamos era colaborar com o Setúbal"

P Não houve então qualquer disputa pelo Moretto?
R Não houve guerra nenhuma. Nunca estivemos interessados no jogador. Acredito que é o terceiro melhor guarda-redes no futebol português, mas os dois primeiros, o Vítor Baía e o Helton, já são nossos. Se o contratássemos seria para continuar no Setúbal. Aliás, foi isso que transmiti ao Chumbita Nunes. A partir do momento que vendeu ao Benfica, ficou o problema do Setúbal resolvido. A encenação de ir buscar o jogador ao Brasil e trazê-lo para Portugal e usar seguranças para intimidar pessoas, tudo isso é ridículo, porque o jogador iria sempre para onde o Setúbal quisesse que ele fosse. É que, embora aquelas imagens do aeroporto de Lisboa possam dar outra ideia, não estamos num país sem lei.

P Foram mostrados um cheque e um contrato durante a apresentação do jogador no Estádio da Luz?
R Isso do contrato e do cheque é entre o empresário e o jogador, não tem nada a ver connosco.

P O jogador disse que passou cinco horas no Estádio do Dragão...
R Não sei quantas horas foram, mas esteve de facto à espera do tal faxe do Setúbal e de uma autorização para falar com o D'Onófrio. Quando soube do desfecho do negócio com o Benfica, limitei-me a cumprimentá-lo e a desejar-lhe Bom Natal. Agora, quando veio para cá foi no pressuposto da conversa que tivemos na véspera com o Chumbita. Depois, a partir do momento em que me foi comunicado o acordo com o Benfica, tudo parou.

P Se considera que tem os dois melhores guarda-redes do futebol português, a contratação do Moretto era um estratégia a longo prazo?
R Podia ser duas coisas que passariam por uma conversa com o Moretto que nunca tive. No meu pensamento estava, primeiro, colaborar com o Setúbal; segundo, à distância porque o Moretto tem 27 anos e daqui a um ou dois teria cabimento ele estar cá e, terceiro, sabia que havia mais possibilidades e como tal poderia ser um bom jogador para envolver numa aquisição do FC Porto. É importante que se saiba que, desde a primeira hora, a questão posta ao doutor Chumbita Nunes é que o Moretto não viria para o FC Porto.

P É publico que o Benfica ofereceu um milhão de euros pelo Moretto. Qual era a proposta do FC Porto?
R A nossa proposta foi de 500 mil euros para ficar com os direitos e para trazê-lo para cá dentro de um ano e meio. E púnhamos o Sandro lá sem custos para o Vitória. E, se daqui a um ano e meio, o trouxéssemos para cá, púnhamos lá um guarda-redes dos nossos. O Setúbal aceitou isso à uma e meia da manhã do dia 20, mas ao início da tarde comunicou o acordo com o Benfica e tudo parou. Agora há uma coisa interessante que deve encravar muito o senhor Scolari. Quando se falou que o Moretto vinha para o FC Porto e não para o Benfica, a generalidade dos cronistas, comentadores e palradores, disseram: "isto é mesmo para chatear, porque o FC Porto não precisa do guarda-redes porque com o Vítor Baía ele não tem hipóteses de jogar e no Benfica joga". Portanto, se o silogismo é lógico e correcto, se não joga no FC Porto porque está o Baía e joga no Benfica onde está o Quim, logo o Vítor Baía é melhor do que o Quim. O senhor Scolari que se limpe a este silogismo.

P Mas o Quim tem estado lesionado...
R Não tem não. O Quim está a jogar mas pelos vistos o Moretto já vai jogar e eu também digo que ele é melhor do que o Quim. Agora, repito, se o Baía está no Porto e o Moretto não tem lugar porque o Baía é melhor e se joga no Benfica porque é melhor do que o Quim, logo o Baía é melhor do que o Quim. Não sei se o senhor Scolari sabe o que é um silogismo. Se não sabe, que aprenda e que chegue à conclusão lógica e explique de uma vez por todas quais os problemas que o Baía teve no balneário da selecção e quem é que lhe meteu isso na cabeça?


"Setúbal não pagou a Fonte mas tinha dinheiro para isso"

P O central Fonte também fazia parte da proposta do FC Porto?
R Não. O Luciano D'Onófrio ligou-me dias antes disto a dizer que um amigo lhe tinha ligado a oferecer vários jogadores do Setúbal. Um deles, o Dembelé, acabou por ir para lá, mas também estavam incluídos no negócio o Fonte e o guarda-redes. Eu disse-lhe que não conhecia bem o Dembelé, que o Fonte era um jovem - e até lhe disse para ver se ele não prejudicava o Jorge Costa com a contratação do Fonte - e o guarda-redes, disse-lhe eu, depois dos nossos, é o terceiro melhor guarda-redes a actuar em Portugal e disse-lhe que até o punha em contacto com o Setúbal. Ora, no dia em que o Chumbita me comunicou que estava tudo feito com o Benfica, o D'Onófrio estava cá porque queria falar com o Fonte e com o Moretto. E eu disse-lhe que se o guarda-redes estava vendido ao Benfica, então já não podia falar com ele. Nessas circunstâncias, o Luciano combinou com Pedro Romão, representante do empresário do jogador em Portugal, que o Fonte iria na segunda-feira seguinte a Liège para conversar, tal como sucedeu. Mas avisei-o para ter cuidado, porque o Fonte tinha metido o pedido de rescisão, de facto, mas o Setúbal já tinha dinheiro para pagar, recebido pelos direitos televisivos, e ainda estava dentro dos prazos para acertar as contas com o central como fez com os outros jogadores. Se o Vitória lhe pagasse, o que curiosamente não fez apesar de já ter dinheiro para isso e de o ter feito com os outros jogadores, a rescisão não era válida. O facto é que o Fonte ainda foi a Liège mas pediu muito dinheiro para ficar. Curiosamente, assinou pouco tempo depois pelo Benfica.


"Tentaram dificultar a vida a Adriaanse"

P O FC Porto está em primeiro no campeonato, mas continua a haver alguma resistência ao treinador...
R Porque alguma Comunicação Social tem procurado fazer-lhe a vida difícil. Naturalmente que uma mentira dita 100 vezes aos olhos de maioria das pessoas passa a ser verdade. E quando se critica o treinador porque não mete o Jorge Costa, as pessoas não sabem como ele está. Mas quando são intoxicadas porque, por exemplo, não joga o Quaresma, é natural que as pessoas se deixem influenciar, até porque muitas nem assistem aos jogos. O treinador deixou, inclusivamente, de o convocar, porque entendia que o Quaresma tinha uma atitude que prejudicava a equipa, possibilitando sucessivos contra-ataques por perdas de bola. O Quaresma não gostou, mas compreendeu e hoje é o melhor jogador português desta primeira fase do campeonato. E o treinador sabia o que esteve a fazer, sabia o que podia tirar do Quaresma. Ele disse-me muitas vezes que o Quaresma podia ser melhor do que o Cristiano Ronaldo, mas que tinha de corrigir os seus defetios, e que ele tinha de se mentalizar que tinha de os corrigir. Tentaram tornar-lhe a vida difícil, mas o treinador compreendeu perfeitamente a situação e há uma coisa que eu garanto: não do que digam sobre ele o perturba, porque ele tem um objectivo, tem a sua maneira de ver as coisas, e nada o desvia dos seus objectivos.

P Está a incluir nessa campanha de intoxicação uma faixa recente dos SuperDragões sobre o Jorge Costa?
R Claro. Há uma coisa que eu lhes garanto: os SuperDragões não gostam mais do Jorge Costa do que eu, de certeza absoluta. Uma das poucas coisas que guardo aqui no meu gabinete, tenho na minha mesa, o livro do Jorge Costa, que para além do que diz no próprio livro, me escreveu no próprio livro me escreveu apenas isto: "Para o meu preisdente, o grande responsável pelo meu sucesso, obrigado por tudo do seu capitão e amigo Jorge Costa". Mais do que eu gosto do Jorge Costa gosta naturalmente a sua família. Quando a argumentação do treinador é lógica, quando ele me diz que o Jorge Costa pode jogar mas não há nenhuma equipa que jogue para ser campeã e que jogue ao ataque com um central de 34 anos, não posso dizer nada. Agora, é evidente que as pessoas acham que o treinador embirrou com o Jorge Costa, quando o treinador me disse que se ele quisesse ficar não tinha o mínimo problema e que até era impiortante pelo seu caracter, e pela maneira de trabalhar. Agora , o Co adriaanse tem o seu conceito e acreditava, desde que veio, que o Pepe ia ser um grande central. E eu pergunto: o Pepe, com 22 anos, não é já um grande central? E para entrar um tem de sair outro... Criou-se esse clima, que levou até essa faixa e que podia levar a outras coisas.

P Foi devido a este clima que anunciou a extensão do contrato com Co adriaanse?
R Não. Quando isso veio a público já estava tudo acordado. Quando o contrato foi assinado já previa três anos. Unicamente para a última tinha de haver um período de observação de parte a parte e, quando entendessemos os dois que era benéfico, comunicariamos um ao outro. Não sei quando é que isso aconteceu, mas posso dizer-lhe que foi antes do FC Porto-Inter. Passado para aí quinze dias ou um mês é que isso saltou cá para fora, depois de termos perdido um jogo. O que foi entendido como um voto de confiança que já tinha sido dado há muito tempo.



"Avançado? Vamos estudar esse assunto"

P Anderson está certo no FC Porto?
R Não lhe queria responder a essa questão, simplesmente porque se disser que é ponto assente, depois os que se entretêm a dizer que ele não vem ou que vem cá o Grémio... Olhe, nem conheço ninguém do Grémio, mas ainda recentemente vi que um dirigente deles esteve reunido comigo... Quando ele chegar vocês vão ver. Não queiram acabar com o romance do Anderson, sobre se vem ou não, se vai jogar três ou seis meses... Para se descobrir quem matou o António andaram a enrolar três meses, por isso agora que está a acabar a telenovela do Anderson não vou revelar o final. Mas esperem só uns dias.

P Vem alguém para o FC Porto nesta reabertura de mercado, para além do Anderson?
R O treinador já anunciou publicamente que não deseja mais ninguém para além do Anderson. Ainda não falei com ele, porque, como já disse, regressei hoje (ontem) e ele esteve de folga. Vamos conversar amanhã (hoje), mas por aquilo que ele me tem dito não vamos falar de contratações, porque sempre me disse que não quer ninguém, mas iremos antes abordar as dispensas que poderão ser feitas.

P Mas o FC Porto vai ficar sem o Benni McCarthy. Já conversaram sobre isso?
R Sempre previmos que ele fosse para a CAN, apesar de o McCarthy dizer que arranjava forma de não ir...

P Mas a verdade é que já foi...
R Pois, essa é a verdade, e por isso vamos conversar amanhã (hoje) também sobre isso. Antes, o que o treinador me dizia, até porque gosta muito do Sokota, que se lesionou num jogo da Liga dos Campeões em que foi titular, é que tudo dependia da recuperação dos jogadores. Ele também não conhece o Bruno Moraes, que vai ser reintegrado brevemente. Vamos analisar tudo isto ainda esta semana.

P Uma questão que tem sido levantada prende-se com a ausência de defesas-laterais de raiz. Não existe a perspectiva do FC Porto se reforçar nessas posições?
R Acho essa questão interessante. Está escrito que o Ricardo Costa é um central, mas com o Mourinho ele foi titular uns vinte jogos, mas sempre como lateral. E nunca se levantou problema de ele não ser um lateral de raiz. Ele jogou a final da Taça UEFA, jogou na Supertaça contra o Milão, jogou nos jogos da Champions, jogou no campeonato, a maior parte das vezes a defesa-esquerdo e algumas vezes a defesa-direito, e nessa altura nunca se levantou o problema que ele não é um defesa de raiz.

P Provavelmente o sistema de jogo era diferente e a equipa ganhava...
R Mas a nossa equipa também está a ganhar. A diferença é que hoje em dia andam com uma lupa para ver onde se pode aborrecer o treinador. Agora já não se pode aborrecer o treinador com o Jorge Costa, porque o Jorge Costa já saiu, já não se pode aborrecer com o que ele diz, porque ele agora está calado, então decidiram aborrecê-lo com os laterais de raiz. E o lateral que se diz não ser de raiz é o jogador que jogou mais vezes na época passada, porque o titular, na teoria, era o Nuno Valente, que esteve meia época lesionado.

P Acha, por isso, que o FC Porto não tem necessidade de contratar defesas-laterais?
R Não acho, nem deixo de achar. Falo com o treinador sobre jogadores e até hoje ele disse-me sempre que não precisa de ninguém. E se não precisa, não compro. Agora temos de colocar a questão do McCarthy, e se ele me disser que precisa de um avançado vamos estudar o assunto. Mas só nesse caso, porque a nossa política passa cada vez mais por evitar perder jogadores titulares, comprar o menos possível e investir em jovens como o Anderson.


"Gilberto Madail devia exigir e dar explicações sobre Baía"

"corre que, antes de Scolari ter assinado, teria havido um almoço em Madrid - o que pelos vistos até nem é verdade - entre o dr. Gilberto Madail, o Godinho e o seleccionador, no qual teria esse o tema da conversa"
"Não vi nenhuma crónica que não viesse dizer que o FC Porto não precisa do Moretto porque o Moretto com o Vítor Baía não joga, dado que o Baía é melhor, e que o Moretto faria mal em transferir-se para o FC Porto porque no Benfica jogaria de certeza"

P O presidente disse há pouco que, pelo que tinha visto nas duas últimas jornadas do campeonato, o FC Porto podia ter chegado a esta altura com dez pontos de avanço. Quer especificar?
R Disse-o porque foi isso que vi, mas não sei o que viram os outros, porque às vezes há televisões que dão mal.

P E falou também do seleccionador nacional a propósito do Moretto, para sublinhar a qualidade do Vítor Baía...
R Quem constatou isso, como eu lhe disse, foram todos os cronistas. Não vi nenhuma crónica que não viesse dizer que o FC Porto não precisa do Moretto porque o Moretto com o Vítor Baía não joga, dado que o Baía é melhor, e que o Moretto faria mal em transferir-se para o FC Porto porque no Benfica jogaria de certeza. Isto está escrito e não é por um, nem por dois, nem por três jornais: está escrito em todos. É o reconhecimento nacional de que o Vítor Baía é melhor do que o Quim. E, no entanto, o Quim é que vai à selecção.

P Nas conversas que teve, certamente, com Gilberto Madail durante todo este tempo, não lhe foi dada nenhuma explicação?
R Depois das afirmações do senhor seleccionador nacional, afirmando que o motivo eram questões de balneário e dado que ele nunca teve o Vítor no balneário porque nunca o convocou, eu entendo que dr. Gilberto Madail, enquanto responsável máximo da Federação, devia exigir explicações e devia dar explicações, porque correm os mais diversos rumores. Ainda há dias tive a oportunidade de falar com o dr. João Rodrigues, que é uma pessoa liga à federação e que tem responsabilidade até na FIFA, e corre que, antes de Scolari ter assinado, teria havido um almoço em Madrid - o que pelos vistos até nem é verdade - entre o dr. Gilberto Madail, o Godinho e o seleccionador, no qual teria esse o tema da conversa. Também há boatos, que me parecem absurdos, de que foi uma imposição da Nike, por causa das luvas, porque o Vítor não usa Nike e é a Nike que patrocina a selecção. Não estou a dizer se acredito ou não acredito: são coisas que me dizem. É o que consta para aí. Quando toda a gente reconhece o valor do Vítor - o próprio presidente já o reconheceu -, ao ponto de termos chegado a esta prova inequívoca que é o facto de toda a gente admitir que ele é, pelo menos, melhor do que o Quim, um dos guarda-redes da selecção, dizer que é por questões de balneário não cheira bem. Não fica bem.

P Cheira a balneário...
R Não é o balneário que não cheira bem: a afirmação não cheira bem. Alguma coisa tem de estar por detrás disto. É a Nike? Não joga por causa da Nike? É por ser bonito? É por ser feio? Não se percebe.



"Se Quaresma é o melhor o mérito é do treinador"

"Quaresma até podia entrar numa fase de desmoralização, porque qualquer futebolista sonha estar num Mundial e, numa fase em que não estava bem, o senhor Scolari veio anunciar, se calhar para dar moral aos jogadores dos sub-21, que não contava com nenhum deles"

P Uma das críticas que têm sido feitas ao treinador é que ele tem um plantel tão bom que teria, obrigatoriamente, de fazer melhor, e que estes pontos que tem feito são quase uma consequência da qualidade do plantel. Vê isto como um elogio à administração?
R O que eu acho é que esse é outro daqueles cavalos de Tróia para tentar denegrir o treinador. Se ele tem, realmente, um bom plantel, como reconhece, há mérito em quem o escolheu e quem o escolheu foi a administração. Em segundo lugar, há também mérito dele. Se hoje o César Peixoto é um defesa esquerdo já cobiçado, foi ele quem o conseguiu; se o Quaresma, hoje, é apontado como o melhor jogador do campeonato, até esta altura, deve-se, para além, obviamente, do génio do jogador e dass suas qualidades, ao treinador, que confiou nele, que teve mão dura e coragem para nem sequer o convocar e que fez dele melhor jogador, quando o Quaresma até podia entrar numa fase de desmoralização, porque qualquer futebolista sonha estar num Mundial e, numa fase em que não estava bem, o senhor Scolari veio anunciar, se calhar para dar moral aos jogadores dos sub-21, que não contava com nenhum deles. Quer dizer, veio dizer ao Quaresma que tirasse o Mundial da ideia. Mérito, por isso, do treinador que conseguiu dar-lhe moral, dar-lhe confiança e fazer-lhe ver que, se ele quiser, tem qualidade para jogar no campeonato do Mundo e até para ser uma das estrelas.



"Já sabiamos que o Marco Ferreira ia para o Benfica ou para o Sporting"

P E como vê a contratação do Marco Ferreira pelo Benfica?
R Sobre isso li uma coisa muito interessante, que ele tinha metido o Atlético de Madrid pelo meio para despistar as atenções e rescindir. Não é verdade. Quando apareceu pela primeira vez a notícia do Atlético de Madrid ele já tinha rescindido. O Marco Ferreira, através de um advogado, que até é nosso amigo, propôs a rescisão do contrato. No próximo ano ele teria um vencimento de 225 mil euros e veio propor a rescisão deste ano e do próximo. Ora, no futebol português não há muita gente que pague esse valor a um jogador de primeiro plano que, neste momento, ele não é. O Marco tinha contrato com o FC Porto, no ano passado foi colocado na lista de dispensas, este ano também não foi incluído no plantel e tentamos colocá-lo em vários clubes, nomeadamente no Nacional e no Guimarães, que não quiseram os seus serviços. Acabámos por cedê-lo ao Penafiel com participação do FC Porto em cinquenta por cento do pagamento. Quando apareceu a proposta para rescindir sem qualquer indemnização, é óbvio que disse logo que ele não era tolo. Estando no Penafiel e sabendo que não tem mais nenhum clube, não ia rescindir um contrato com estes valores se não estivesse seguro para o ano. Só poderia, naturalmente, ir para o Sporting ou para o Benfica. Ora, se o Benfica ou o Sporting viessem cá, se calhar ele até ia mais barato. O Marco Ferreira como pessoa é excelente e desejo que tenha muita sorte na vida e seja feliz, mas outra coisa é o jogador. Apresentar-se o Marco Ferreira - que em dois anos nunca foi titular indiscutível e que foi cedido por diversos treinados, incluindo o José Mourinho - como uma grande aquisição de Inverno, só se justifica pela falta de assuntos para as primeiras páginas e pela necessidade das pessoas aparecerem em público.

P Mas é um facto que o Benfica e o Sporting se têm reforçado...
R Se considerarmos que o Marco Ferreira é um reforço ao nível de um clube como o Benfica, sim.

P Mas há mais reforços. O Manduca, o Moretto, o Fonte, o Laurent Robert. Não o preocupa?
R Nada. A única coisa que me preocupa é que estamos a seis pontos acima do Benfica e, pelo que se passou, nos últimos dois jogos devíamos estar a dez. O Moretto, é o terceiro guarda-redes português e o Quim o quarto. Portanto, estar um ou outro na baliza não faz grande diferença.



"Maciel não jogou porque não quiseram"

P No futebol, dadas as regras ferozes de mercado, deveria haver restrições como na Liga de Campeões em que os jogadores não podem vestir duas camisolas na mesma época?
R Acho que, quando um jogador rescindisse em determinado momento, não podia ir para o clube contra o qual ia deixar de jogar pelo menos durante um mês...

P Depois há a história dos cedidos, em que uns defendem que devem jogar contra a entidade patronal e outros não, como no caso do Maciel...
R Defendo que não devem jogar e não é por ser a entidade patronal porque o outro também está a pagar e não podemos dividir o jogador em dois. É para defender o espectáculo e a verdade do futebol e sabe-se que há profissionais da intriga, nem que sejam jornalistas reformados que passam a cronistas. Há casos concretos. O Jorge Costa é, em termos de prestígio e carácter, inatacável. Quando, pelas cores do Marítimo, marcou um fortuito golo na baliza do Marítimo, foram feitas muitas insinuações. O FC Porto tem o Bruno Vale emprestado ao Estrela da Amadora - que fez uma grande exibição contra nós -, mas suponhamos que, no primeiro minuto ele tinha a infelicidade daquele lance que aconteceu na selecção nacional frente à Suíça? Esse jogador estava morto. A Leonor Pinhão nunca mais deixava de falar no Bruno Vale. Se calhar algum cineasta ia fazer algum filme de terror. Quando o Hilário, contra o FC Porto, que fez uma grande exibição nesse jogo e empatámos, foi publicamente acusado pelo presidente do Benfica de se ter vendido - um assunto que acabou no tribunal - mas se tivesse jogado outro não haveria esse tipo de insinuações. Defendo que não joguem para salvaguardar estas questões. Fazer acordos está mal. E não faço com ninguém. O Bruno Vale jogou contra nós, o Marcos António também. O Maciel não jogou porque não quiseram. Se ele metesse todo esse medo e respeito ao FC Porto estaria cá. Isso é atirar poeira para os olhos.



"Vamos encontrar alternativas à Liga que foi ganha pelo Benfica"

"o FC Porto vai, com outros clubes que, inclusive, nos têm contactado, tentar encontrar pessoas com capacidade para integrar a Liga nos mais diversos órgãos. Não vamos indicar ninguém, vamos tentar encontrar pessoas de consenso com capacidade"

P Sendo o FC Porto a força que é, continua a fazer algum sentido a decisão que tomou de não participar nas decisões da Liga, amputando dessa maneira a hipótese de impulsionar em reformas e de acabar com algumas trapalhadas em que o futebol português se vê constantemente envolvido?
R O FC Porto não decidiu não participar nas decisões da Liga. Houve duas listas e o FC Porto apoiou uma. E foi dito pelo senhor presidente do Benfica - não fui eu que inventei, nem os jornais -, quando contratámos o Jankauskas, que não estava preocupado em contratar jogadores: estava peocupado em ganhar lugares na Liga. Portanto, o Benfica ganhou a Liga. Parece que já há uns cozinhanços lá por Lisboa, como tem sido noticiado, uns almoços e uns encontros, sem conhecimento da maioria dos clubes, mas é evidente que, na altura própria, o FC Porto e outros clubes vão tentar encontrar uma alternativa à Liga que foi ganha pelo Benfica.

P Isso é uma promessa de oposição?
R Não é promessa, é uma alternativa, porque, naturalmente, quem conseguiu ter a Liga que queria e toda a gente sabe que não foi o presidente da Liga quem escolheu o director-executivo - não vou dizer se é bom se é mau, porque não é isso que está em questão -; nem foi o major Valentim Loureiro quem escolheu o Luís Guilherme para presidente do árbitros, nem foi ele quem escolheu o director comercial. Nem os conhecia. Nem escolheu a Comissão Disciplinar também. Quando chegar a altura, se houver clubes que tenham outras ideias, nós estaremos nisso. Por agora, não se sabe ainda se o major Valentim Loureiro se candidata ou não. Tem mostrado vontade de sair. Vamos ver se isso se concretiza. Se ele for candidato, em termos de presidente nós apoiaremos. Em relação aos outros órgãos, na altura própria, nós e os outros clubes que não estão de acordo com a situação actual teremos de encontrar alternativas. Portanto, não estamos fora do processo nem distraídos. Infelizmente, até somos alertados com muita frequência para a situação.

P Portanto, pode haver um cenário em que o FC Porto volte a empenhar-se nas eleições da Liga de forma directa?
R Não é pode: o FC Porto vai, com outros clubes que, inclusive, nos têm contactado, tentar encontrar pessoas com capacidade para integrar a Liga nos mais diversos órgãos. Não vamos indicar ninguém, vamos tentar encontrar pessoas de consenso com capacidade. Naturalmente, depois serão os votos a decidir.