sexta-feira, janeiro 19, 2007

APOIADO

Manuel Tavares no OJOGO:


Alto e pára o jogo

Os futebolistas italianos anunciaram que não vão mandar a bola fora e que em caso de lesão a responsabilidade de parar o jogo passará a ser exclusivamente do árbitro. Ora aí está uma boa medida para combater a suspeição com que em Portugal são exploradas algumas situações de lesões



A Associação Italiana de Futebolistas (AIC) pediu aos seus filiados para não pontapearem a bola para fora das quatro linhas do campo em caso de lesão de adversários ou companheiros de equipa, deixando ao árbitro a decisão de interromper ou não o jogo.

Ora aí está uma forma excelente de os jogadores se afirmarem como um bom grupo de pressão. Sem abdicar das reivindicações corporativas naturais à sua própria essência, os futebolistas italianos têm ganho uma capacidade muito interessante de partilhar responsabilidades nas reformas do jogo e, obviamente, de melhoria do espectáculo. Ao que parece, a ideia de que é preciso salvar a galinha dos ovos de oiro vai fazendo o seu caminho no futebol europeu.

Talvez por a defesa do espectáculo ser um conceito com alguma tradição de partilha, esta iniciativa dos futebolistas não seja verdadeiramente surpreendente. O que não invalida que para a AIC ela seja um contributo decisivo para combater e eliminar um dos focos de polémica mais persistentes no ambiente do futebol profissional. E em torno do qual, volta e meia, as televisões acabam por provocar autênticos incêndios entre as massas adeptas.

Com a decisão de parar o jogo da exclusiva responsabilidade do árbitro, dificilmente alguém poderá continuar a apontar o dedo aos jogadores por falta de ética e passará também a ser mais difícil lançar a suspeita de falta de "fair play" sobre o treinador A ou B e por maioria de razão ao emblema X ou Y.

Tudo isto deveria ser tomado em boa conta quando se torna patente que no futebol não há apenas excessos de clubite. No caso português essa cegueira pelo emblema tem-se casado muito bem com a defesa de outros interesses menos apaixonantes e bem mais espúrios como sejam os das corporações que vivem directamente da indústria do futebol ou, indirectamente, de corporações relacionadas entre as quais as dos jornalistas, comunicadores e opinadores.