quarta-feira, março 31, 2004

Aprenda Fífias da Cunha

Cruz dos Santos Vivò Árbitro

na "abola"

O fora-de-jogo



O Benfica não eliminou o Inter (na Taça UEFA) porque não soube. E até pôde. Quer na Luz quer em Milão. No entanto, esse facto não invalida o lance talvez decisivo da eliminatória: expulsão e penalty por assinalar, quando o guarda-redes Toldo, de pé emriste, agrediu Sokota de forma deliberada. Talvez o árbitro não tenha visto. Admito. E até creio. Mas foi observado, com certeza, pelo árbitro assistente. E faltoulhe coragem para informar o seu chefe de equipa—o que já é de todo inadmissível, sejam quais forem as circunstâncias.

ENTRETANTO, por cá, Dias da Cunha voltou a estar em grande. Findo o jogo como Paços de Ferreira, nem a vitória do Sporting o impediu de afirmar que «esta arbitragem está relacionada com o Leixões-Estoril». Apenas isto, sem concretizar— convidando os jornalistas a investigar. Corajosa forma de combater o tão invocado sistema. E, como se não bastasse, também deu mais um contributo para a confusão reinante, proclamando que «o golo de Liedson não foi precedido de fora-de-jogo, porque já não existem foras-de-jogo posicionais».

OBVIAMENTE, não sei (e gostaria de saber) onde Dias da Cunha foi buscar a novidade. Até hoje, pelo menos, apenas sei o que diz a lei 11 das Leis do Jogo. E recordo a parte que interessa para o caso: «A posição de fora-de-jogo só deve ser sancionada se, no momento em que a bola é tocada por um colega ou jogada por um deles, o jogador toma (na opinião do árbitro) parte activa no jogo, isto é, intervindo no jogo, influenciando um adversário ou tirando vantagem dessa posição.» E, perante isto, não tenho dúvidas: o golo do Sporting foi irregular (culpa exclusiva do árbitro assistente) porque, no momento em que Niculae desferiu o remate detido pelo guarda-redes Pedro (que soltou a bola para a frente), Liedson estava mais adiantado do que qualquer outro antagonista. Logo, é óbvio que tirou vantagem da posição que ocupava.

CURIOSAMENTE, foi um golo semelhante ao segundo do Real Madrid, também há poucos dias, frente aoMónaco, para a Liga dos Campeões: remate de Figo, bola detida pelo guarda-redes e recarga de Zidane em posição de fora-de-jogo. Passou despercebido, não lhe vi referência em lado algum. Mas nem por isso o golo deixou de sermal validado. E nem sequer esqueço a circular n.º 874 da FIFA, enviada pelo respectivo secretário-geral (Urs Linsi) a todas as federações nacionais, no dia 22 de Outubro último, com o alegado fim de «garantir interpretação uniforme da lei 11».

O secretário-geral da FIFA presta o esclarecimento (?) baseando-se (através de perguntas e respostas) em cada uma das três circunstâncias necessárias para que o fora-de-jogo seja punido. E considera: intervir no jogo é jogar ou tocar a bola passada ou tocada por um colega de equipa; influenciar um adversário é impedi-lo de jogara bola, tirar-lhe essa possibilidade (como, por exemplo, impedirclaramente a visão do jogo ou os movimentos do guarda-redes) ou, ainda, caso se encontre na trajectória da bola, fazer gestos ou movimentos para enganar ou distrair um adversário; tirar vantagem da posição é jogar a bola que ressaltou de um adversário, dos postes ou da barra». E, em face disto, nada se altera —pelo que nem sequer vejo onde está o esclarecimento.

SEM margem para dúvidas, no jogo de Alvalade, se alguém teve razões de queixa, foi o Paços de Ferreira, batido por golo irregular. Mas, mesmo assim, sem motivo para grandes alaridos e menos ainda para ofensas (se é que existiram), porque foras-de-jogo como aquele (só claro na TV) acontecem frequentes vezes e resultam do facto de, em caso de dúvida, dever decidir-se a favorde quemataca. E o árbitro Elmano Santos (ali levado ao engano pelo seu auxiliar) esteve muito bem no que lhe competia—desde a «lei da vantagem» até à disciplina, passando pelo rigorna distância das barreiras.

QUANTO ao golo do FC Porto frente ao Moreirense, tenho sérias dúvidas sobre razão para o «livre» que deu origem (pareceu simulação de Carlos Alberto), mas a certeza de que foi mal assinalado o canto que gerou o «livre». Devia tersido punida a carga com que McCarthy forçou o guarda-redes João a soltar a bola para lá da linha de fundo. Todavia, Martins dos Santos teve arbitragem isenta—não pode aceitar-se que alguémfale da sua afeição portista.