terça-feira, março 30, 2004

Cego, surdo e mudo

JORGE MAIA in Ojogo

Na última temporada, o FC Porto venceu a Taça UEFA e o Boavista chegou às meias-finais da mesma prova. Este ano, o FC Porto já eliminou o Manchester United e está com um pé enfiado nas meias-finais da Liga dos Campeões depois de ter batido o Lyon por 2-0 no estádio do Dragão. Pelo meio, garantiu uma vantagem tranquila no primeiro lugar da SuperLiga e assegurou presença na final da Taça de Portugal. Enquanto isso, o Benfica esteve muito perto de eliminar o Inter de Milão nos oitavos de final da Taça UEFA, aproveitando, simultaneamente, para também garantir presença no Jamor. Apesar dessas provas de vitalidade, há quem insista em cruzadas para convercer toda a gente que o futebol em Portugal não presta e que só vai aos estádios quem gosta de ser enganado. Não é verdade. O futebol em Portugal presta tanto que até o Rio Ave é capaz de ganhar por 4-0 a uma equipa que reclama aos sete ventos praticar o melhor futebol deste mundo e do outro.

É verdade que houve equipas eliminadas prematuramente da Taça UEFA, é verdade que houve equipas afastadas cedo da Taça de Portugal, é verdade que algumas sofreram derrotas inexplicáveis contra o Rio Ave e também é verdade que vêem agora em causa até as aspirações que lhes restavam ao segundo lugar, o mesmo que, por via de uma pré-eliminatória, poderá, se tudo correr bem, dar acesso à Liga dos Campeões. Mas só porque as coisas não correm bem para algumas equipas, não é motivo para pensar que está tudo mal em todo o lado. É preciso ter vistas mais largas. Afinal, quem conseguiu ver uma grande penalidade sobre Polga que escapou a todos os cronistas presentes no Alvalade XXI - mesmo aos que a foram descobrir mais tarde - certamente poderá ver mais longe que os limites impostos pelo rendimento da sua própria equipa e admitir que há coisas que correm bem, que há equipas que ganham tanto lá fora como cá dentro. É claro que, se o fizesse, ia ter que explicar aos seus adeptos por que motivo a sua equipa não vai estar no Jamor, por que é que o seu estádio novo em folha não foi palco para mais jogos europeus ou por que até o segundo lugar parece ser demasiado alto para a sua equipa. É muito mais fácil continuar a fazer insinuações sem destinatário rematadas com um sorriso familiar mas pouco original ao melhor estilo: "Vocês sabem do que estou a falar".

Já agora, e perante a gravidade de algumas afirmações do presidente do Sporting, parece-me inacreditável que o Ministério Público não actue de uma vez por todas, chamando Dias da Cunha a depor sobre a corrupção de que tanto fala. Pois se sabe de tudo e não conta nada, Deus nos livre, até pode vir a ser acusado de cumplicidade.


PÉROLAS
A lei do faroeste

"Não é fora de jogo porque o "offside" posicional deixou de existir", disse Dias da Cunha sobre o golo de Liedson frente ao Paços de Ferreira. Houve um momento de pausa entre os jornalistas que rodeavam o presidente do Sporting, como quem espera pelo resto da piada. Mas não havia mais nada. Não era uma piada, era a sério. Bem vistas as coisas, até teve mais graça assim.