terça-feira, junho 01, 2004

Amordaçados

JORGE MAIA no ojogo

Ora até que enfim! Foram quase dois anos amordaçados mas agora acabou. Finalmente, José Mourinho vai embora. Já se pode respirar de alívio. Afinal, depois deste tempo todo, estávamos todos de acordo: o homem é mesmo o melhor treinador português da actualidade. A diferença é que agora pode escrever-se assim, com as letras todas, aqui ou noutro jornal qualquer, sem medo de levar umas palmadas por se ter uma opinião. Andou ele a estafar-se entre treinos e observações, estágios e palestras para ganhar clássicos atrás de clássicos, campeonatos e mais campeonatos, Taças de Portugal e Supertaças, Taças UEFA e Ligas dos Campeões quando tudo o que precisava, para ser devidamente reconhecido para lá das fronteiras do Porto - de Leiria e Setúbal, também - era, tão simplesmente... sair do FC Porto. Quem se lembra agora da "arrogância" com que disse que o Sporting ia pagar - e pagou mesmo - a derrota com o Milan na Supertaça Europeia? Quem se lembra da camisola de Rui Jorge que o Sporting o acusou de ter rasgado, sem nunca apresentar as provas que reclamava ter? Quem se lembra dos murros na mesa e das garantias que o FC Porto ganharia o campeonato de qualquer maneira, apenas porque era a melhor equipa? Quem se lembra das opiniões assassinas que assinou sobre ele? O que interessa isso tudo agora que o melhor treinador português da actualidade vai finalmente deixar de ganhar títulos pelo - como era que José Mourinho dizia? - "alvo a abater"? Depois de Octávio Machado, o FC Porto podia ter passado um mau bocado à procura do caminho de volta aos títulos. José Mourinho conhecia os atalhos todos de cor e salteado. Ganhou dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões "contra tudo e contra todos" como tantas vezes sublinhou. Agora vai embora, provavelmente para ganhar mais coisas noutro clube qualquer. Entretanto, há uma luz ao fundo do túnel, uma esperança para o bando de vira-casacas sem um pingo de carácter nem vergonha na cara que aparece agora a dar-lhe palmadinhas nas costas à procura dos punhais que andou cravar-lhe durante os últimos dois anos. Há uma luz ao fundo do túnel, de facto, mas pode muito bem ser um comboio que vem aí.