JOSÉ MANUEL RIBEIRO no Ojogo
Por esta altura, já é óbvio que a Imprensa será julgada pelo tratamento negligente dado à preparação do campeonato da Europa. As desculpas que poderemos invocar são as mesmas de Scolari e dos jogadores: demasiado tempo à espera dos jogos a sério, passado em ritmo de treino, sem saber muito bem o que se deve ou não exigir da equipa nesses casos. Tal como acontece com a selecção nacional, a explicação não tem qualquer fundamento. O futebol é bom ou mau; a organização existe ou não; os resultados convencem ou provocam desconfiança. As razões foram outras, muito menos profissionais. Houve a clubite, que tanto pode ser acusada de ter defendido uma má versão da equipa como de, com a crítica agreste, ter toldado o espírito a um seleccionador teimoso para lá do razoável e, aparentemente, até à revelia dos seus próprios interesses. Houve também o "desígnio nacional", sobre o qual já escrevi: o respeito do jornalismo deve ser entregue na íntegra à verdade e a verdade tem de doer; se a adocicarmos por amor ao país, ou vamos mentir ou, no mínimo, não garantimos que é ouvida. Percebi ontem, pelas opiniões que li e pelas declarações do próprio jogador, que Rui Costa começa a cair na posição de mártir; que se sente - e que o sentem - responsabilizado pela má entrada no campeonato da Europa. Também essa é uma forma de pôr açúcar na verdade, trocando um protagonismo por outro: a história nada tem a ver com ele. Numa expressão patética mas muito portuguesa, os jogadores são o que são; não são o que foram nem o que vão ser, muito menos o que querem ver neles. O problema é que, pelos motivos acima indicados, ao longo destes anos de ouro quase nunca houve palavras duras: só apreço e compreensão em excesso. Apontar o dedo à Imprensa faz todo o sentido.
Os cobardes adoram linchamentos
Há 8 horas