sábado, junho 12, 2004

José Mourinho sobre a Selecção

Porque razão não teve início uma semana antes?
O tempo, para além de imparável, desloca-se a velocidade impressionante. Ainda «ontem» explodiamos de alegria com a «conquista» da organização da fase final do Campeonato da Europa, tremiamos com a responsabilidade, e, hoje, assim de repente, «Ele» aí está diante de nós, com o Mundo a olhar e a analisar, preparado para o elogio ou para a crítica feroz , e todo o Portugal na tremenda expectativa do que nele iremos fazer.

Todavia, para mim, o EURO 2004 que temos obrigatoriamente de ganhar é fundamentalmente um: o do futebol como fenómeno sócio-cultural, esmagador e fascinante.


PRESTIGIAR PORTUGAL - A VITÓRIA OBRIGATÓRIA

A organização, a simpatia, a educação, a solidariedade, o orgulho pela História e pela Cultura, a abertura, a interacção e comunicação são, apenas, alguns dos aspectos que marcarão o prestígio do nosso País e dos Portugueses.

Esta é a vitória obrigatória. Aquela pela qual TODOS nos deveremos sentir pressionados e motivados. Esta é a crença e a convicção de um português que, por acaso, é profissional de futebol. A nossa preocupação deve ser a da vitória sócio-cultural e deixemos nas mãos dos jogadores e técnicos da Selecção a responsabilidade da secundária missão - a da vitória desportiva.

Confesso que, por ter estado terrivelmente absorvido pelo meu novo desafio profissional e também pelas curtas férias familiares, estou como que um pouco «distante». No entanto, parece-me quase óbvio que a maioria das selecções participantes nesta fase final do Euro 2004 tem no treino analítico o epicentro da sua preparação.

Sou, como certamente sabem os leitores mais atentos, um defensor de uma perspectiva totalmente antagónica do treino, com a integração de todos os factores, alicerçados na organização e preparação táctica.

Creio que, na sequência de lamentos quase cíclicos pela dificuldade de, ao longo da época, se ter a trabalhar em conjunto jogadores de diferentes clubes, e até de clubes de países distintos, seria lógico que estas semanas preparatórias incidissem na organização táctica, pensando, pensando colectivamente, estruturando, automatizando, elevando a performance colectiva.

Resumindo - fazendo com que o todo passasse a ser superior à soma das partes. Ou, de uma forma mais explícita, fazendo com que grupos de grandes jogadores pensassem e reagissem em simultâneo a cada variante do jogo, como uma equipa.

Aos meus jogadores digo, centenas de vezes, que o mais difícil em futebol é jogar e pensar como uma equipa!

Adoraria estar equivocado, mas não espero um «Europeu» de elevado nível qualitativo. Arriscaria mesmo dizer que as melhorias relativamente aos jogos de qualificação e/ou de preparação não serão significativas e dever-se-ão essencialmente ao aumento da pressão envolvente, a qual, nos jogadores de «top», provoca um aumento da motivação e da concentração, factores determinantes na «perfomance».

A minha questão, como consequência do tipo de filosofia subjacente ao treino de quase todas as selecções, é por conseguinte saber se se justifica tanto tempo de período preparatório, com consequências negativas para os Clubes que iniciarão as suas pré-épocas com os seus jogadores principais em férias.

Se o objectivo principal não é o da melhoria da organização de jogo das equipas, o que se reflectiria no aumento da qualidade de jogo, porque razão não teve início a competição uma semana antes?

Para terminar - e deixo esta para aqueles mais supersticiosos ou mais crentes na força do «Destino»: no Estádio do Dragão ganha sempre a equipa da «casa».

Força Portugal!


JOSÉ MOURINHO