terça-feira, julho 24, 2007

"Pinto da Costa deve ter um segredo como o de Fátima"




Felícia Cabrita no JN:

"Pinto da Costa deve ter um segredo como o de Fátima"

Disse que "Carolina Salgado fala como uma criança irresponsável". Como fala Ana Salgado?

Quando ouço as várias horas gravadas em cassetes - disponíveis para a Justiça ouvir quando quiser - da longa entrevista que me foi dada por Carolina Salgado, onde ela assume a co-autoria das agressões a Ricardo Bexiga, e outros crimes iguais, mas com melhores resultados, sou bastante bondosa ao dizer que fala como uma criança irresponsável. Com Ana Salgado, nunca falei. Nisto, sou como os grandes assaltantes de bancos um bom profissional não assalta dependências; eu não faço gemadas.


Sugeriu que Pinto da Costa iria anunciar uma bomba. Já pode desvendar o que é?

Se ele ainda não a revelou, deve ser mais um segredo de Fátima.


Das biografias que assinou, Pinto da Costa foi o único a ganhar a sua simpatia?

Não respondo; pergunto qual foi o jornalista que, até agora, falou dos assuntos, alguns bastante melindrosos, que são tratados nesta biografia?

Seria capaz de o investigar?

Quando escrevo uma biografia, tento esgotar o assunto. Mas se, por acaso, surgir qualquer caso relacionado com essa pessoa, que me leve a outra investigação, obviamente que o farei.

No fim de uma investigação, mantém as fronteiras ou pode surgir uma amizade?

Sou muito solitária. Felizmente, não tenho relações com partidos, com o poder, nem com clubes de futebol. Não quer dizer que, no fim dos trabalhos, não ganhe simpatia por esta ou aquela pessoa. Em relação a figuras com trajectos tão diferentes como Jerónimo de Sousa e Mota Amaral, penso que, de parte a parte, a simpatia é mutua.

Na blogosfera lê-se que é fria, ambiciosa e que se comporta como um oficial da Gestapo...

A inveja é a melhor terapia dos preguiçosos. Gostava de conhecer jornalistas que já tivessem abandonado bons tachos como tinha no Expresso; e que já se tivessem demitido de revistas como a Grande Reportagem, após o director [Joaquim Vieira] com quem fui convidada a trabalhar, ter sido despedido por razões políticas e não jornalísticas, ficando eu um ano no desemprego. Estas são as minhas maiores glórias; não sei se muita gente as tem.

É uma subversão de valores o jornalista dar entrevistas?

Estou farta de ouvir moralistas da nossa classe, falsos homens bons, defenderem essa tese para a subverterem no dia seguinte.

E adaptar uma investigação a uma série televisiva, como fez com "Ballet Rose"?

Às vezes, não parece, mas o trabalho jornalístico tem autoria. Estou cansada de ver trabalhos iniciados por mim e explorados por outros, como se os meus não tivessem existido. A partir de seis meses, o jornal perde os direitos sobre o trabalho. Ele faz parte da minha experiência de vida, é propriedade intelectual do jornalista, e eu uso-o como quiser.

É frequente pedirem-me o seu contacto. Sente que a vêem como uma justiceira?

Sinto que as pessoas verificam que os meus trabalhos têm resultados imediatos. Há duas semanas, alguém me entregou uma mala cheia de cassetes pedófilas e disse "Prefiro falar consigo do que falar com a Polícia".

Sentiu medo no curso da investigação "Casa Pia"?

Nunca direi "Nunca me deixo intimidar." Já me conhecem.

O 'Expresso' tentou demovê-la da sair do semanário?

Só Francisco Balsemão, por quem continuo a ter muito respeito.

Que brinde daria ao 'Sol' se o semanário desse brindes?

Sou uma péssima rifa para muita gente, mas um excelente brinde para o "Sol". O "Inimigo público" sugeriu ao semanário que fossem oferecidas 'Felícias' insufláveis. E eu concordo.

Que investigação gostaria de ter feito e perdeu para outro colega?

Geralmente sou eu que atiro os foguetes; eles apanham as canas.

Lembra-se da sua infância na Quarteira?

Foi uma infância muito feliz. Nasci ao pé do mar. Como diz o poeta Herberto Hélder "Quem nasce ao pé do mar, é boa pessoa." Mas poucas pessoas pensam isso de mim. Hélas!